Mais novo e brevíssimo conto de amor de casal fofo — branquinho, cheiroso, hétero e temente a Deus — de curitibanos de bem.
1° ato – Durante viagem a Copenhague, Dinamarca, para comemoração de um ano de casados

Restaurante Bræddehytten, Copenhagen, 2013
Foto Leif Jørgensen [Wikimedia Commons]
— Moziquinho, eu to a-p-a-i-x-o-n-a-d-a por esse país! Só gente educada, bonita e simpática, daí!
— Não te disse, Guguzinha? Quando pesquisei no Google e sugeri Copenhague pra nossa viagem eu tinha certeza que ia ser massa! É primeiro mundo do primeiro mundo isso aqui!
— Como sempre brilhante, Moziquinho! Nada de Paris, Roma, Espanha... Esses lugares já estão infestados de excursão de brasileiro sem educação, daí! Aqui não, nem se escuta português!
— E com a vantagem que todos falam inglês, né?
— Claro! Gente diferenciada...
— E o que foi aquele smørrebrød com arenque e hortaliças que almoçamos, Guguzinha? Fala pra mim... Tô empachado até agora!
— Ahhhh, Moziquinho, eu vi na Globonews que aqui vai ser lei: só agricultura sem agrotóxicos e transgênicos!
— Capaz, é diferença no gosto mesmo... Dá até uma invejinha branca!
2° ato – De volta a Curitiba, Moziquinho e Guguzinha enfrentam trânsito na BR-116 na entrada da cidade, provocado por manifestação do MST contra plantações de transgênicos da Monsanto

Manifestação do MST contra os produtos transgênicos da Monsanto
Foto Daniel Leon [website do MST]
— Que horror isso, Moziquinho! Bando de jacus sem louça pra lavar! Certeza que são sustentados pelo governo comunista do PT, daí!
— Tô de cara, Guguzinha, tô de cara! Olha, me deu vontade de descer e dar umas pauladas nesses tongos que vivem no chuncho! Parece que é gosto de atrapalhar quem trabalha e paga impostos!
— Viu os cartazes deles, Moziquinho?
— Uhum... Querem atacar uma empresa séria, que gera emprego e de padrão internacional, só faltava essa!
— Coisa de comunista, palha total!
— Esse estresse me deu até fome, daí! Vamos naquele espeto corrido novo do Batel?
— Aquele com o bufê de saladas enorme?
— Isso!
— Boa ideia! Como sempre brilhante, Moziquinho!
E viveram no Champagnat, fritinhos para sempre.
sobre o autor
Alexandre de Oliveira Périgo é um paulistano de 45 anos, pai da Clara e do Léo, que habita as Minas Gerais. Engenheiro e consultor de gestão empresarial desde que os continentes ainda estavam unidos, é também fotógrafo e escritor por amor. Outras paixões são livros, idiomas – se vira razoavelmente em sete –, basquete e curling.