A proposta arquitetônica para a construção do edifício-sede do IPHAN indiscutivelmente deve refletir a alma brasileira. Nesta direção, procuramos não perder o significado poético do conteúdo de nossa história; uma realidade que deverá estar contida na concepção do espaço arquitetônico.
Como disse Argan – “...O que é história? A história é antes de tudo memória. O que é imaginação? A imaginação... O que é a memória? É a imaginação do passado. O que é imaginação? É a memória da posteridade”.
Assim, nos propusemos relacionar em um contexto atual e único - o edifício guardião da memória brasileira, as peculiaridades da cidade de Brasília e sua situação geográfica; sem comprometer a força do caráter histórico, mas expressando através de uma atitude contemporânea, as virtudes da nacionalidade cultural de nosso povo.
Virtudes estas, profundamente ligadas à formação de um país que se construiu com as mãos das mais diversas etnias e que, por ser “novo” e descomprometido com as tradições estrangeiras do Velho Mundo, nos possibilitou uma flexibilidade e inventividade ímpar.
Portanto, tomando como premissa, o instigante conteúdo que resume a concepção de um edifício-sede responsável pelo Patrimônio Histórico Nacional, entendemos que a arquitetura deve ser simples, porém diversificada, objetiva, mas deixando aberto os caminhos da imaginação.
- Brasília foi concebida em meio ao cerrado, e resgatando este fato como referência, propusemos a disposição deste novo edifício de modo a respeitar a infinitude da paisagem nativa.
- Para abrigá-lo do clima quente e seco, recorreu-se à construção de uma grande sombra sobre um pátio que abriga todas as funções públicas. Esta sombra é constituída de um edifício longilíneo que acolhe os programas funcionais da instituição. Um grande “muxarabi” reveste o edifício protegendo-o do intenso calor do Sol. Funciona como um grande chapéu que cobre a cabeça do sertanejo, assim como resgata o frescor das grandes varandas das residências coloniaisO muxarabi disposto em um só bloco cobre toda a extensão do edifício, trazendo a unidade, magnitude e a austeridade necessária a um edifício que celebra a memória da arquitetura brasileira; deixa ver também, através de sua qualidade translúcida, a diversificada natureza construtiva que orienta e determina as funções dos blocos instalados em seu interiorEstes blocos (Diretoria – concreto; Coordenadorias – madeira, aço e alvenaria; Administração – alvenaria azulejada) dispostos sobre duas grandes vigas apoiadas sobre pilares, filtrados pela beleza das tradicionais luzes propiciadas pelo muxarabi, distinguem em sua expressividade técnica, a materialidade e os vários momentos experimentados pela arquitetura brasileira.
- O acesso público principal se fará por uma suave rampa que irá atingir um grande pátio abrigado por uma topografia construída. Nele estão concentradas as atividades culturais e de convívio - (Museu, Sala de Exposições, Auditório, Arquivos, Laboratórios, Loja e Café), tão necessárias ao fortalecimento de todas as funções exercidas pelo IPHAN. Seu desenho possui a mesma natureza ambiental exibida pelos pátios internos dos edifícios públicos dos tempos coloniais, ressaltada pela lembrança de um chafariz.
Estarão também contemplados junto ao pátio, o acesso público e estruturas de apoio como restaurante, posto médico, reprografia, vestiários e outros...
Com a mesma intenção de amenizar o clima seco, propõe-se para o pavimento térreo um espelho d’água que desenha a confluência entre áreas construídas e áreas verdes.
No térreo, a linearidade do edifício-sede é cortada pelo percurso de uma rampa curvilínea, culminando na Biblioteca Aluízio Magalhães; edifício que por sua própria natureza, confere ao complexo arquitetônico o merecido caráter de austeridade.
ficha técnica
Autores
Guilherme Motta e Victor Paixão - São Paulo/SP
Projetista
Miguel Felipe Muralha
Consultorias
Arquiteta Ana Maria Lindenberg – Consultoria Ambiental
Engenheiro Jorge Hauy – Consultoria Estrutural
