Natureza e artifício
O território proposto como sítio de implantação do complexo de edifícios do Sistema Fecomércio RS, insere-se num contexto geográfico em que o espaço modificado pelo ser humano encontra o ambiente natural. Trata-se de uma região limítrofe da malha urbana, onde o município de Porto Alegre encontra com sua região metropolitana.
Partindo dessa realidade, a presente proposta coloca-se como um modo de interpretar essa relação entre o meio ambiente e a cidade, entre natureza e artifício.

Fecomércio, Sesc e Senac do Rio Grande do Sul, Porto Alegre RS, 2020. Arquitetos Dario Corrêa Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria e João Gabriel Rosa (autores) / Estúdio 41
Foto Eron Costin
Partindo do princípio de que os artefatos criados pelo homem transformam a paisagem; construindo ou destruindo os objetos presentes no espaço; entende-se a possibilidade de transformar a região onde se insere o conjunto edificado, criando lugares em que os artifícios produzidos pelo homem ― os edifícios ― se constituam numa extensão da natureza, estabelecendo assim uma relação amigável entre as edificações e os espaços abertos.
De fato, uma intervenção do porte do Sistema Fecomércio tem o poder de renovar, induzir e qualificar seu entorno imediato. Entendendo a força dessa ideia, propõe-se que boa parte dos espaços projetados possa ser utilizada, além dos usuários e colaboradores, pela comunidade local.
O homem transforma o meio ambiente, interfere na natureza de modo a produzir espaços que abriguem suas atividades cotidianas. Nesse processo, provoca mudanças, constrói objetos, pensa em artifícios inseridos no ambiente natural. A presente intervenção sugere uma reflexão sobre a relação entre natureza e artifício. Propõe assim, edifícios que sejam ao mesmo tempo: artefato e paisagem, cobertura e relevo, abrigo e área aberta. Um espaço onde trabalhar signifique qualidade de vida, rodeado por espaços de lazer, pensados para o contato com o ar livre. Lugar de convívio para aprender, ensinar e se encontrar.
Identificam-se dois problemas centrais na implantação do complexo do Sistema Fecomércio RS. O primeiro, de ordem programática, é a questão da identidade institucional.
Entende-se que um dos principais desafios esteja constituído em como fortalecer o caráter institucional de um conjunto de edifícios que tem a missão de representar três instituições ― Fecomércio, Sesc, Senac ― tão fortes e sólidas para a sociedade, em um único complexo.

Fecomércio, Sesc e Senac do Rio Grande do Sul, Porto Alegre RS, 2020. Arquitetos Dario Corrêa Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria e João Gabriel Rosa (autores) / Estúdio 41
Foto Eron Costin
A segunda questão, ligada ao terreno, baseia-se na percepção desse lugar como um local ambientalmente frágil e sensível por conta da proximidade de ecossistemas como o da bacia do Rio Gravataí e ao mesmo tempo sujeito a alagamentos, decorrentes dos problemas de drenagem da região.
Torna-se necessário então agir em duas frentes:
- Interpretando o programa de necessidades como a possibilidade de invenção de um lugar ― a Fecomércio ― com forte identidade para a cidade e a comunidade local, fortalecendo assim a ideia da instituição como espaço de congregação, convívio e socialização de seus usuários e colaboradores, independentemente de quantos edifícios ou nomes de instituições estão a ele conectados;
- Propondo que os espaços de permanência de usuários, colaboradores e comunidade local estejam protegidos em uma cota mais elevada, preservando a ideia de segurança institucional mesmo habitando um terreno com as fragilidades descritas acima.
Para dar conta dessas questões, sugere-se então a criação de um edifício garagem horizontalizado, na cota +3,00m, conformado como um podium, sobre o qual se apoiam os edifícios principais. Esse embasamento, além de abrigar os veículos, comporta também as áreas técnicas e de serviços do complexo, permitindo que os usos de longa permanência desfrutem de visuais generosas da paisagem da região e dos espaços abertos propostos. A cobertura dessa construção recebe tratamento paisagístico, prolongando-se até o parque proposto na porção leste do terreno. Trata-se da invenção de uma nova topografia ― um relevo ― gerando espaços livres para o uso das pessoas que aí trabalham, convivem e também para a comunidade local.

Fecomércio, Sesc e Senac do Rio Grande do Sul, Porto Alegre RS, 2020. Arquitetos Dario Corrêa Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria e João Gabriel Rosa (autores) / Estúdio 41
Foto Eron Costin
O Centro de Convivência proposto, na cota +8,00m, age como elemento conector do conjunto edificado. Possuindo a característica de espaço público aberto, esse grande eixo funciona como antessala dos saguões de cada edifício, onde é realizado o controle de acesso. A ideia central dessa edificação é induzir o convívio entre usuários das diversas instituições; do Edifício Administrativo, do Centro Educacional e do Centro de Eventos.
Seu interior abriga o Memorial, as áreas de alimentação, o comércio e exposições. Ocupando a parte central do terreno, permite que cada etapa nova de construção se conecte em sua estrutura linear. Na porção Norte, o balanço de sua estrutura marca o acesso principal, com frente para Auto Estrada Marechal Osório. Na parte Sul, delimita o espaço da praça de chegada para a área de eventos e educacional.

Fecomércio, Sesc e Senac do Rio Grande do Sul, Porto Alegre RS, 2020. Arquitetos Dario Corrêa Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria e João Gabriel Rosa (autores) / Estúdio 41
Foto Eron Costin
Cada edifício proposto possui uma identidade visual própria e ao mesmo tempo integradora.
O Edifício Administrativo marca e estabelece o caráter institucional. Paralelo à auto estrada Marechal Osório, próximo ao acesso principal, esse prédio constitui-se no volume mais alto do conjunto. O programa de necessidades da Fecomércio RS foi organizado em dois blocos articulados; a base, que abriga as áreas de apoio para eventos e lazer; o corpo, que abriga os ambientes de trabalho e os escritórios.
O Centro Educacional tem seu programa distribuído ao redor de um pátio. A topografia proposta para o embasamento invade o interior do pátio, transformando seu chão de modo a abrigar os auditórios. A Biblioteca Central ganha posição de destaque no conjunto; ao mesmo tempo em que cobre parte do pátio, aumentando suas possibilidades de uso, sua volumetria estabelece a marcação da entrada.
O Centro de Eventos caracteriza-se pelo seu forte caráter de multifuncionalidade e flexibilidade. Seu espaço principal, a quadra, pode abrigar eventos esportivos ou transformar-se para comportar feiras, eventos e exposições. As galerias laterais, em conjunto com o saguão e a área de aquecimento, permitem que se crie um percurso ao redor da quadra, propício também a servir a feiras e exposições. No embasamento desse edifício, são propostos dois pavimentos de garagem, além de estacionamento para ônibus, áreas técnicas e de carga e descarga.
Procura-se orientar os espaços de trabalho das edificações no sentido Norte-Sul, de modo a melhor usufruir da insolação e da luz natural. Nas fachadas Leste-Oeste propõe-se a utilização de brises, de modo a reduzir o ganho de calor por essas superfícies. As coberturas verdes de boa parte das edificações agem também no sentido de aumentar a inércia térmica das edificações, agindo como isolantes entre o meio interno e o externo.
Sugere-se a adoção de sistemas de captação de energia solar, localizados nas coberturas das edificações principais. Além disso, prevê-se espaços para armazenagem de água da chuva, reaproveitamento e tratamento de águas servidas, além daqueles já solicitados pela legislação.
Para garantir a execução da obra em tempo hábil e evitar os desperdícios na construção, propõe-se a utilização de estruturas pré-fabricadas em concreto. Essa sistema é utilizado com o módulo base na dimensão de 125cm, própria para garantir o aproveitamento de espaço nas garagens, ao mesmo tempo em que gera modulações favoráveis para forros, pisos e esquadrias, minimizando assim as eventuais quebras de material. Os vão principais são da ordem de 15 metros, permitindo um bom aproveitamento das peças metálicas. O Centro de Convivência é um caso à parte, com estrutura treliçada em aço, possui balanço de 30 metros e vão central de 70 metros.

Fecomércio, Sesc e Senac do Rio Grande do Sul, Porto Alegre RS, 2020. Arquitetos Dario Corrêa Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria e João Gabriel Rosa (autores) / Estúdio 41
Foto Eron Costin
ficha técnica
projeto
Fecomércio, Sesc e Senac do Rio Grande do Sul
local
Porto Alegre RS
ano
2020
áreas
Terreno: 16 hectares
Edificação: 44.256,74 m²
arquitetura
Arquitetos Dario Corrêa Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria e João Gabriel Rosa (autores); Alexandre Kenji, Fernando Moleta, Martin Kaufer Goic, Moacir Zancopé Junior e Rafael Fischer (colaboradores) / Estúdio 41
projeto estrutural
Vanguarda
projeto elétrico e hidráulico
Eduardo Ribeiro
climatização
Sistema Engenharia
paisagismo
Meta Arquitetura
cozinha industrial
Nucleroa
gestão de riscos
Squadra
acústica
Anima Acústica
impermeablização
Cruz e Cruz
sistema viário
Ber Projetos & Obras
prevenção e combate à incêndio
Combat
foto
Eron Costin