Intervenções espaciais com reflexos sociais
O "desenvolvimento" está aqui entendido como uma mudança social positiva e não simplesmente como desenvolvimento econômico alheio seus efeitos colaterais. Consideramos estar diante de um autêntico processo de desenvolvimento socio-espacial quando se constata uma melhoria da qualidade de vida e um aumento da justiça social, contemplando assim, não apenas relações sociais, mas também a espacialidade.
Marcos referenciais dos novos parques
Imagem: Pedro V. Moreira
O espaço está aqui entendido como substrato material: palco, fonte de recursos, recurso em si, arena, referencial simbólico. O espaço não só com o caráter de “lugar” com seus valores e significados construídos com base na experiência concreta de indivíduos e grupos, mas também com o caráter de “território”, não necessariamente físico ou tangível, mas sim, articulado com uma porção específica do substrato material (apropriada por um grupo social).
O princípio de defesa da alteridade legítima - "direito à diferença" - divide-se aqui em duas idéias interdependentes: a autonomia individual – incluir percepções distintas das próprias necessidades e perseguir a satisfação delas desde que nao firam as liberdades básicas de outrem - e a autonomia coletiva – em que a exigência de justiça social e, por conseguinte, de igualdade efetiva de oportunidades, devem ser convenientemente postas. Portanto a liberdade individual e a igualdade estão aqui entendidas em um plano coletivo.
Embasamos este trabalho na mudança do espaço físico público. Aprofundamos as propostas na criação de espaços agradáveis, de acordo com o público ao qual se destinam, e capazes de interferir de maneira positiva no cotidiano dessas pessoas. Acreditamos que essas interferências são capazes de subsidiar mudanças socioculturais futuras, mas para isso, os parques devem oferecer equipamentos, espaços e serviços em coerência com suas vocações específicas.
As propostas de tratamento paisagístico das áreas livres públicas na região do Guarituba estão direcionadas às demandas locais, considerando usuarios, equipamentos e serviços. Os materiais, revestimentos, vegetações e sinalizações foram indicados de acordo com pesquisas e levantamentos in loco. O paisagismo dos parques procura equacionar as demandas da população local com as vocações de cada espaço. Tanto o paisagismo quanto os equipamentos e microambientes visam diferenciar os conceitos de lugar com o de território. Isso se dá através da inter-relação da qualidade e identidade com a unidade geral.
A mudança social positiva ocorre quando o novo espaço reflete de maneira agradável no cotidiano dos usuários. A implantação de equipamentos esportivos - quadras de areia, circuitos de cooper e ciclovias, campos de futebol, pista de skate, obstáculos para a prática do “Ie parcour”, além de equipamentos de alongamento e ginástica - visa incentivar a prática esportiva, com seus benefícios sócio-culturais ja conhecidos. Novos playgrounds, espaços de contemplacão, churrasqueiras, trilhas ambientais e praças completam a lista de equipamentos capazes de atender a todas as diferentes idades e demandas dos usuários. A distribuição desses equipamentos ocorre de acordo com as peculiaridades de cada parque.
A populaçao sentirá os efeitos, tanto da implantação dos parques quanto nas mudanças nas ruas e calçadas, ao longo do tempo. Além de uma apropriação do espaço público, os parques se tornarão marcos de identidade do local. Quanto ao sistema de modais de transporte, a ciclovia terá preferência sob as vias para veículos automotores. Tanto a topografia do local, como a cultura dos seus habitantes corroboram para isso. Assim a bicicleta - veículo saudável e ecologicamente correto - será cada vez mais cultuada em detrimento dos veículos poluidores, como vem ocorrendo em todo o mundo. Na escala urbana, os efeitos são sentidos quando da implantação de um novo mobiliário urbano. Esse mobiliário alia a conemporaneidade com a qualidade.
Todos os bancos disporão de lixeiras para separação do lixo orgânico do reciclável, e serão viabilizados através da venda de seus espaços publicitários. Totens informativos, luminárias, playgrounds e churrasqueiras também compartilham das mesmas características.
A relação entre os parques ocorre de duas maneiras. A primeira se da através do circuito de ciclovias interparques. Trata-se de uma rede de ciclovias que une todos os sistemas ciclo viários internos de cada parque. A segunda maneira acontece através da ligaçao visual promovida entre os elementos verticais integradores. De cima do mirante de cada parque e possível avistar o elemento vertical do parque vizinho. Cada elemento é feito de um material de acordo com as características do parque no qual esta inserido. Os parques do "Lambari" e do "Acará" compartilham do fato de estarem inseridos na porção mais urbanizada da região. Assim, seus marcos referenciais são de materiais mais urbanos - aço e concreto respectivamente - enquanto o parque do “Mandi" usa a referência da água como material principal, de acordo com sua função no sistema de drenagem. A água é elemento recorrente nesse parque, nao só no elemento vertical. O parque linear culmina em um outro elemento, cujo material é madeira, como nos caminhos de palafitas sobre a área de preservação, demonstrando o respeito pelo meio ambiente.
Descrição dos parques
Parque linear - Desenvolve-se entre a Via Parque e o canal de drenagem. Trata-se da implantação de uma linha de ciclovia e pista para caminhada e cooper. Ao longo dessa linha temos canteiros florais, árvores, bancos, lixeiras, churrasqueiras, playgrounds, luminárias e toda a sinalização para os usuários. Além desses equipamentos, alocamos também as "unidades fitness", contendo barras de alongamento e equipamentos de ginástica. No fim do parque temos o elemento vertical em madeira. Também em madeira, estão previstos passeios em palafitas sobre área de preservaçao. Extensivos as estes passeios, temos a área para a implantação do edifício que comportará as atividades de extensão universitária. Estas atividades, além de auxiliar a população, também serão responsáveis por garantir o controle ambiental da área de preservação.
Parque Linear
Imagem: Pedro V. Moreira
Parque do Mandi - Tráta-se da maior área - aproximadamente 30 ha, e é cortada pela rua 4, contornando duas áreas. Na menor delas, além da já prevista lagoa de contenção, locamos um estacionamento e um grande piso para feiras. Sobre esse piso, existe a possibilidade de instalação de uma tenso-cobertura efêmera. Na outra porção estão áreas de arborização densa, teatro de arena, circuito de caminhada sensorial, ciclovia, pomar, a outra lagoa de contenção, além do marco vertical com tema “água”. Sobre as lagoas, alocamos decks de contemplaçao dos chafarizes de cada uma delas. Esses chafarizes reforçam o conceito "água" desse parque.
Parque do Mandi
Imagem: Pedro V. Moreira
Parque do lambari - É a menor área, porém inserida entre quadras repletas de residencias, e ladeada por uma importante via. Conforma uma praça em sua esquina principal, com diferentes materiais de piso, com desenho evidenciando a perspectiva do marco vertical. Além disso, oferece a comunidade equipamentos esportivos, como quadras, espaços fitness e o circuito de le parcour. Seu elemento vertical tem o terna aço. Possui densa área arborizada com diversas espécies.
Parque do Lambari
Imagem: Pedro V. Moreira
Parque do Acará – A exemplo do parque Lambari, também está inserido em área mais adensada e ladeado por uma rua de maior fluxo. Assim, também apresenta uma praça e diversos equipamentos esportivos. Oferece também um “skate park” e um campo de tutebol oficial, e ainda o elemento vertical em concreto.
Parque do Acará
Imagem: Pedro V. Moreira
Todos os parques possuem área de estacionamerto coerente com seu tamanho, além da área para o edifício da administração. Os pisos são permeáveis com cores diferenciadas, para proporcionar o desenho que enalteça o efeito da perspectiva ao ponto focal.
ficha técnica
Autores (alunos da Universidade Federal do Paraná)
Ciro Scheraiber
Fabio Luis Nascimento
Pedro Virmond Moreira
Colaborador
Arquiteto Eron Costin